quinta-feira, 30 de julho de 2009

Para começo de conversa...

O que vem antes: ponto a ponto

•O capitalismo é intrinsecamente impeditivo da universalização da dignidade humana, promovendo a miséria e a ausência ou precariedade de direitos para a maioria da população.

•Existem educadores comprometidos, em maior ou menor grau, com a transformação dessa sociedade numa sociedade justa e humanizada.

•Essa é uma forma de pensar, um desejo que, numa sociedade capitalista, não é proclamado pela maioria, nem dentro nem fora da escola.

•Mesmo não sendo a escola a instituição desencadeadora do processo de humanização do homem, ela pode criar algumas formas possíveis de intervenção nessa direção.

•Nenhuma escola é uma ilha e não há nenhum espaço educativo que seja completamente de um jeito só.

•Cada escola contém elementos contraditórios, forças, mesmo que pouco nítidas, que se opõem, elementos arcaicos e avançados, desejos amortecidos, desejos de mudança, desejos de permanência, desejos nem descobertos...

•Assim, a escola sempre tem em seus quadros profissionais mais e menos progressistas, mais e menos conservadores e até mesmo aqueles que expressam indiferença (e que com sua passividade ajudam as coisas permanecerem do jeito que se apresentam). Nessa perspectiva, a escola pode e não pode promover mudanças, simultânea e contraditoriamente.

•A instituição “pura”, que alguns podem idealizar, com os seus profissionais harmonicamente seduzidos por uma mesma ideia motriz, a de humanizar o homem do qual falamos, só existe no desejo de alguns que têm tal intenção como norte para a sua ação pedagógica.

•Na própria vida não há espaço para tal pureza de intenções, sem nenhuma força que a ela se oponha ou, no mínimo, que a ela atribua outras tonalidades, mais e menos fortes;

•Não existem, pois, no âmbito da realidade concreta, escolas boas que se oponham a escolas más. Por mais que uma escola tenha uma tendência a ser mais conservadora (ou progressista), ela conviverá com elementos que se oponham à sua tendência mais geral.

•Quando o educador persegue em seu cotidiano o compromisso com a humanização do Homem, uma de suas metas de vida passa a ser a construção diária de coerência entre seu discurso e sua prática, já que, de um modo geral, somos formados numa conjuntura histórica que aceita e até estimula a incoerência entre palavras e gestos.

•Nesse processo de crescimento, está presente o esforço desse educador para tentar reduzir dentro de si o jeito linear, dogmático e simplista que, não raras vezes, caracteriza a sua postura diante da vida, de si próprio e outro.

•O esforço por fazer do discurso uma prática de vida dá-se dentro e fora da escola. E tal entendimento não vem sozinho, ele nos atinge todo o cotidiano e nos coloca diante do nosso modo de viver, nos mais variados âmbitos de nossa vida.

•Para se tornar viável, o jeito de ser e de agir desse educador deve ser construído com humildade e junto com aos outros, coletivamente [...].

•As tentativas de realização de um trabalho coletivo têm mostrado importantes formas de se compartilhar dúvidas, avanços, fracassos e recomeços de quem não quer sucumbir às forças conservadoras.

•Trabalho coletivo não quer dizer necessariamente trabalho de todos, com todos, durante todo o tempo. Também não é apenas o convívio entre iguais (se é que alguém é alguém é igual a alguém...). O desejável, é óbvio, não é o estímulo a posturas sectárias que não ajudem a construir possibilidades de trabalho conjunto e emperram o diálogo.

•A própria composição política da escola vai mostrando quem são os pares que mais se identificam. E no próprio dia-a-dia, pela forma de trabalhar de cada um, as afinidades vão se explicitando.

•Habilidades devem ser estimuladas de modo a combinar aproximações político-pedagógicas entre profissionais para que, juntos, encontrem mais habilmente maneiras de ampliar o número de educadores comprometidos com uma visão crítica de educação.
[...]

Fragmento do texto O que vem antes: ponto a ponto

LOZZA, Carmem. Escritos sobre jornal e educação: olhares de longe e de perto; São Paulo: Global, 2009.
Postado por Luciane às 07:16 0 comentários
Segunda-feira, 27 de Julho de 2009
O que outras pessoas dizem...
Postado por Luciane às 19:02 0 comentários
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21 comentários:

  1. Um texto interessante, que relata o que podemos conseguir de nós (educadores) como escola (um todo).
    A humanização do nosso aluno, a humanização de nós mesmos, a humanização da nossa escola, levando em consideração (e respeitando) suas diferentes formas de aprender e ensinar. Porque somos diferentes, mas nosso objetivo deve ser o mesmo: educadores comprometidos com uma visão crítica da educação.

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  2. Precisamos crer na possibilidade de contribuir para alguma mudança, mesmo que singela...
    O que será de nós, professores, sem tal perspectiva?
    Por isso, destaco o trecho:
    "Mesmo não sendo a escola a instituição desencadeadora do processo de humanização do homem, ela pode criar algumas formas possíveis de intervenção nessa direção".

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  3. Infelizmente está é a realidade. Gostaria que fosse apenas uma historia de imaginação mas... As variantes deste cotidiano é amplo demais como as tentativas em reverter essa realidade são muitas, acredito que iremos conseguir, estudando, buscando. É uma grande desafio.

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  4. Bom texto... Penso que numa sociedade onde se espera que a Escola seja a solução de muitos dos seus problemas, a certeza que ela, a INSTITUIÇÃO ESCOLA, também está impregnada dos problemas comuns da comunidade é fundamental. Portanto, toda mudança terá resistência, aceitação e indiferença, mas os profissionais envolvidos no processo devem trabalhar. Então: mãos a obra!

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  5. Precisamos dar atenção especial à leitura, à compreensão de textos e à escrita. Essas habilidades são básicas e essenciais para toda a vida do aluno. O hábito da leitura abre aos alunos uma perspectiva prazerosa de aprendizagem. Estimulando esse hábito, estaremos oferecendo aos alunos contato com diferentes tipos de textos, tais como matérias de jornais, embalagens, receitas, cartas, anúncios, textos expositivos e literários, instruções de jogos, regras da escola, etc. Todos precisam, têm direito e capacidade de aprender. Nem todos os alunos aprendem do mesmo jeito e no mesmo ritmo, embora todos sejam capazes de aprender. O desempenho escolar de um aluno é responsabilidade do professor, que deve ser compartilhada pela família e pela escola.

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  6. Os alunos chegam na escola com informações diferentes todos os dias e cabe ao educador filtrar essas informações, juntamente com eles. E a partir daí, criar novos meios para uma aprendizagem significativa.

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  7. Com a sociedade atual precisamos rever os nossos conceitos de como educar. Não é apenas dar aulas, passar o conteúdo, é também observar seus alunos com um olhar diferente, valorizar o que cada um tem de melhor e fazer com que ele perceba isso. Todos nós precisamos de elogios e de estímulo para nos tornarmos pessoas melhores.

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  8. Se por um lado o capitalismo trouxe a prosperidade, promoveu a criativade técnica... trouxe também a competitividade com auseência de humildade e solidariedade, (o que dificulta criar afinidades coesas). O Ter sobrepôs ao Ser. A indiferença diante de tantos desafios é estimulada por valores distorcidos, que são aceitos ("prá não perder a amizade").Temos que remar contra a maré descrente. Daí... temos que ser fortes, mais resistentes...e camonhar buscando superar os desafios...buscando novas soluções.

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  9. Bem, realmente hoje, nós como educadores precisamos estar sempre conectados com o mundo, enfim, em tudo o que acontece, pois as informações são muitas, no qual o capitalismo e a globalização também contribuem para a mudança do aluno, seja no comportamento ou crescimento intelectual (habilidade de raciocínio). Portanto, é necessário estar atualizado sempre, conhecer novas metodologias e tecnologias de ensino, para interagir o aluno nas atividades, e assim fazer com que ele compreenda a importância e significado daquilo que aprendeu e posteriormente possa aplicar em seu cotidiano.

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  10. As informações trazidas pelos alunos devem ser processadas e utilizadas para a transformação dos mesmos nos espaços sociais em que vivem.
    É na escola que vamos descobrir nossas áreas de interesses...devemos passar por várias experiências...e participar de todas elas...para que futuramente possamos escolher aquelas que mais nos dão prazer...e que poderão nortear as escolhas profissionais...

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  11. Um dos trechos que mais me chamaram a atenção foi "Trabalho coletivo não quer dizer necessariamente trabalho de todos, com todos, durante o tempo todo."Muitas vezes me inquietei ao constatar que alguns alunos não haviam participado de um dado projeto, conforme idealizara, ou até mesmo já critiquei colegas professores que ousaram apresentar trabalhos cuja participação não era de todos.

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  12. O texto alerta para o fato de como a postura do educador é importante para o sucesso do processo de alfabetização e leitura. E ainda que cada um de nós pode e deve fazer a sua parte. Parabéns pela escolha do texto!

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  13. Este comentário foi removido pelo autor.

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  14. "Nenhuma escola é uma ilha e não há nenhum espaço educativo que seja completamente de um jeito só."
    Convivemos com a diversidade em um "grande arquipélago" constituído por diferentes espaços educativos. Cada elemento desse habit age, reflete e reage de acordo com as habilidades próprias de leitura de mundo. Cabe a nós, professores, estimular em nossos alunos a vontade de perceber parte agente, reflexiva e reagente deste contexto.

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  15. Este texto é muito oportuno diante de nossa realidade educacional.Cada vez mais, nós, educadores, precisamos estar consciente e de forma coletiva, da nossa responsabilidade na formação de cada educando que passam pelas nossas vidas e da nossa contribuição na transformação de uma sociedade mais justa, a começar pela nossa realidade.

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  16. O texto nos faz refletir que não somos iguais, mas que a escola precisa de educadores comprometidos com o seu fazer pedagógico.Acredito que a escola funciona como uma orquestra sinfônica,cada um tem que estar afinado para que haja harmonia na educação.

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  17. ESTE É UM TEXTO QUE RETRATA A ATUAL REALIDADE DA "EDUCAÇÃO" NO BRASIL E NO MUNDO. OS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO BUSCAM EM SE COMPROMETER COM MUDANÇAS EM SUAS DIFERENTES FORMAS DE APRENDER E ENSINAR.

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  18. Somos diferentes e é isto que nos torna tão especiais, a escola não pode tentar igualar a aprendizagem e a leitura, mas usar ests diferença como uma aliada no processo de educação. Aproveitar o novo e o diferente, faz com que um vença a limitação do outro.

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  19. O texto nos faz pensar que é preciso usarmos os recursos que temos e fazermos alguma coisa para construção de uma aprendizagem significativa.
    Achei muito interessante esse trecho do texto:"Quando o educador persegue em seu cotidiano o compromisso com a humanização do Homem, uma de suas metas de vida passa a ser a construção diária de coerência entre seu discurso e sua prática, já que, de um modo geral, somos formados numa conjuntura histórica que aceita e até estimula a incoerência entre palavras e gestos".

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  20. Ainda bem que somos diferentes!É na diferença que nos completamos e é nessa diferença que precisamos cada vez mais de professores compromissados com a educação, pois só assim iremos avançar no processo ensino-aprendizagem.

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